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Notícias do consenso sobre Linfoma Multicêntrico Canino

Entre os dias 3 e 5 de maio participei do consenso clínico e patológico do linfoma multicêntrico canino  .

Uma iniciativa da ABROVET, estes consensos  têm como objetivo padronizar condutas clínicas e  anátomo-patológicas de determinadas patologias. O primeiro abordou os tumores mamários , o segundo  mastocitoma canino e este terceiro o linfoma multicêntrico canino.

Particularmente gosto da ideia dos consensos, pois neles temos a oportunidade de discutir de forma ampla e democrática nossas experiências e dificuldades não só entre colegas de várias partes do Brasil, mas entre especialidades.

Acho também importante uma certa padronização de condutas, pois só através delas é possível compararmos  os resultados obtidos, além de facilitar o entendimento entre as especialidades, principalmente entre os patologistas e demais especialidades clínicas.

Neste consenso no que tange a patologia os principais tópicos foram:

-Qual o melhor método para diagnóstico? citológico  X  anátomo-patológico?

Ficou estabelecido que a preferência deve ser dada ao histopatológico com a retirada de um linfonodo inteiro, pois permite a avaliação não só da citologia tumoral mas da arquitetura, importante para o diagnóstico de tumores foliculares.

A citologia  pode ser uma opção quando o estado de saúde do animal não permitir a cirurgia, ou quando o proprietário se recusar a autorizar o procedimento da biópsia.Quanto ao método de fixação dos esfregaços pode ser no ar quando usaremos corantes hematológicos, que não permitem detalhamento nuclear. Ou no álcool 70 , mergulhando a lâmina imediatamente neste álcool, sem deixar secar no ar.Os esfregaços devem ser enviados ao laboratório imersos no álcool.As lâminas assim fixadas permitem outras colorações como o papanicolau com melhor visualização nuclear e também a realização da imunocitoquímica. Eu, particularmente sempre prefiro lâminas fixadas no álcool.

Existe importância prognóstica em separar os linfomas em B ou T, isto é imunofenotipar?

Também foi consenso que os linfomas se comportam de forma diferente, sendo os linfomas T mais agressivos e de pior prognóstico e que provavelmente necessitem de um esquema terapêutico diferenciado

A separação , isto é,  a imunofenotipagem, não é possível através do exame microscópico comum e sim através de métodos moleculares como a imuno-histoquímica ou PCR( em breve farei um post sobre estas técnicas).Serão usados minimamente três anticorpos, o CD3 para identificar os linfomas T, o CD79a para identificar os linfomas B e  um marcador de proliferação celular como o Ki-67 para avaliar o índice de proliferação celular do linfoma. Esta técnica é realizada no mesmo material obtido pela biópsia, no bloco de parafina.

– Padronização dos laudos anátomo-patológicos e citológicos:

Também ficou acordado que o sistema de classificação a ser adotado é o de Kiel e  simultaneamente o da WHO quando possível a imunofenotipagem.

Quanto ao exame citopatológico deve ser referido o tamanho da célula, isto é , de grande intermediário ou pequenas células. A classificação de Kiel pode vir como uma sugestão em forma de nota.

Também foram abordadas a necessidade do estadiamento clínico , a  importância do exame da medula óssea para o estadiamento, critérios de remissão e recidiva com a mensuração constante e padronizadas dos linfonodos por paquímetro, exames de seguimento de patologia clínica e imagem e protocolos de tratamento.

Nós do LabPath estamos nos preparando para oferecer a imunofenotipagem dos linfomas caninos e felinos pelo método da imuno-histoquímica e  provavelmente em junho já o estaremos realizando. No momento existem dois laboratórios em São Paulo com a técnica implantada : o Vetpat e o Vetmol.

Eu pessoalmente acredito ser imprescindível começarmos a imunofenotipar os linfomas em T ou B . Só poderemos tratar corretamente os linfomas se conhecermos a doença e o conhecimento dos linfomas obrigatoriamente passa pela patologia molecular.

 

Ana Luisa

 

 

Mastocitoma canino: sistemas de classificação histopatológica

 

O mastocitoma é umas das neoplasias  cutâneas mais comuns do cão, correspondendo em alguns estudos  a cerca de 20% de todas as neoplasias cutâneas no cão. O comportamento biológico é variável, podendo ocorrer como pequenas lesões localizadas que são curadas pela excisão completa até  neoplasias malignas fatais de comportamento agressivo com metástases generalizadas. O diagnóstico de mastocitoma pode ser  obtido através da citologia mas a  histopatologia é o método de escolha para a graduação dos tumores. Existem  alguns sistemas de graduação em uso.O sistema mais amplamente empregado é o Patnaik, onde as lesões de baixo grau são grau I e as mais malignas são graduadas como III. Este sistema tem mostrado problemas na classificação , não separando claramente as lesões de acordo com seu potencial maligno .

Muitos estudos estão sendo desenvolvidos  na tentativa de definição dos melhores critérios diagnósticos e prognósticos para os mastocitomas caninos,  e o índice mitótico tem sido um marcador prognóstico confiável .Vários índices mitóticos foram propostos como  cut-off,  a maioria  girando em torno de um índice entre 5-7 mitoses por 10 campos de grande aumento(CGA).

Recentemente  foi publicado um  estudo multiinstitucional  envolvendo 28 patologistas veterinários sobre graduação e evolução clínica dos mastocitomas caninos .Neste estudo observou-se uma concordância  de classificação de 75% entre os patologistas para os mastocitomas grau III.Esta concordância foi menor que 64% para os de grau I e II, com significativa variação entre observador Notou-se também uma tendência dos patologistas a classificar com maior frequência o grau II,  grau  intermediário de pouco valor prognostico para o clínico.A partir destes dados ,  foi proposto um outro sistema de graduação de  apenas duas categorias, baixo e alto grau, para separar claramente as lesões   de menor  das de maior potencial maligno. Além dos critérios qualitativos do sistema de Patnaik, pela primeira vez foram estabelecidos critérios quantitativos para um tumor ser classificado como de alto grau:

-7 ou mais mitose/10 CGA;

-3 ou mais células multinucleadas/10 CGA

-3 ou mais núcleos bizarros/10 CGA

-Cariomegalia ( 10% dos núcleos  em pelo menos 2 campos)

A lesão deve ser avaliada nos campos de maior atipia e índice mitótico

Com este novo sistema, as lesões malignas foram separadas claramente das de baixo potencial maligno.Neste estudo os tumores de alto grau estão  associados a metástases precoces e desenvolvimento de novos tumores com sobrevida média de 4 meses ou menos enquanto que nos de baixo grau a sobrevida   é de 2 anos ou mais.

O LabPath, , em concordância com o “ I Consenso clínico, cirúrgico e patológico sobre mastocitomas caninos “, realizado pela UNESP, campus de Jaboticabal em 2012,passou  a adotar os dois sistemas de graduação para os mastocitomas caninos, o de Patnaik com graus de 1 a 3 e o novo sistema designado como de Kiupel por ser o nome do autor principal. O tempo irá dizer se este novo sistema será aceito e se será útil como uma ferramenta diagnóstica e prognóstica.

 

Ref: . Proposal of a 2-tier histologic grading system for canine cutaneous mast cell tumors to more accurately predict biological behavior. Kiupel M, Webster JD, Bailey KL, Best S, DeLay J, Detrisac CJ, Fitzgerald SD, Gamble D, Ginn PE, Goldschmidt MH, Hendrick MJ, Howerth EW, Janovitz EB, Langohr I et al. Vet Pathol. 2011 Jan;48(1):147-55.